21 Ago À descoberta das relações de casal
*artigo publicado na “Psiquilíbrios em Revista” – edição de Junho de 2018
Nas últimas décadas tem sido possível constatar a ocorrência de modificações significativas na instituição casamento e nos modelos conjugais, assistindo-se, na atualidade, a uma vasta diversidade na forma como a conjugalidade pode ser vivida.
Não obstante as exigências inerentes à construção e manutenção de uma relação de casal, a maioria dos indivíduos adultos almeja o estabelecimento de uma relação romântica duradoura, estável e satisfatória.
O estabelecimento de uma relação conjugal pode ser um processo bastante desafiante, na medida em que pressupõe que os dois elementos do casal sejam capazes de negociar uma realidade quotidiana na qual, para além do Eu e do Tu, passem também a incluir e a estruturar um Nós. Efetivamente, sabe-se que a natureza do contexto relacional que é estabelecido por ambos os elementos de um casal é dos fatores que mais influencia a segurança e estabilidade conjugal. Por sua vez, o alcance do equilíbrio entre a individualidade de cada um dos elementos envolvidos na relação e a construção de uma vivência a dois com necessidades e projetos comuns, pode afigurar-se como um grande desafio para o casal. Neste sentido, uma relação pautada por uma dinâmica que constrange a expressão e a satisfação das necessidades individuais dos seus elementos e que, por isso, não se apresenta como um contexto promotor de desenvolvimento pessoal, pode levar a que os indivíduos envolvidos em tal relação a percebam como não satisfatória, potenciando o surgimento de problemas conjugais.
Ao longo do ciclo desenvolvimental de uma relação, os casais podem ser confrontados com uma variedade de desafios e dificuldades inerentes a transições no ciclo de vida familiar, como por exemplo, parentalidade, relações com a família de origem, desafios profissionais, e questões financeiras. Ainda que tais desafios possam constituir-se como fatores de risco para o surgimento de problemas na relação, tal não tem necessariamente de ocorrer, podendo até afigurarem-se como oportunidades de desenvolvimento pessoal e da própria relação. O modo como estes desafios e os possíveis conflitos a eles inerentes são geridos e resolvidos é significativamente influenciado não apenas pelo facto de os elementos do casal procurarem (ou não) negociar a resolução dos mesmos alcançando uma solução minimamente satisfatória para ambos, bem como pela forma como expressam as suas necessidades pensamentos e sentimentos, durante e após este processo. Falamos, portanto, de comunicação.
No âmbito das relações amorosas, é praticamente incontornável não se falar de comunicação, tal a importância que esta dimensão ocupa neste contexto. Efetivamente, é frequente os casais apresentarem a comunicação como uma das principais fontes de insatisfação no seio da relação.
Quando se fala de dificuldades desta natureza no âmbito de uma relação de casal, deve ter-se em consideração que, para além da ausência de comunicação em si, o problema reside muitas vezes na ineficácia e/ou inadequação dos processos comunicacionais que, frequentemente, refletem outro tipo de problemas inerentes à dinâmica e vivência relacional e que podem variar de casal para casal. Assim, casais disfuncionais podem apresentar padrões comunicacionais marcados pela não objetividade, por exemplo, na expressão de sentimentos e necessidades individuais e relacionais, dificultando desta forma que o outro possa adotar comportamentos que visem a satisfação de tais necessidades. Para além disto, tal sinalização e expressão de necessidades pode ser efetuada sob a forma de protesto, crítica e com considerável tonalidade emocional negativa, o que, por sua vez, pode conduzir a uma escalada de conflito onde ambos os elementos do casal se culpabilizam um ao outro, ou à adoção de posturas de retraimento e defensividade por parte do elemento do casal que é criticado. Em qualquer dos casos, tais padrões comunicacionais reforçam apenas o distanciamento emocional e a hostilidade entre os elementos do casal.
Em determinado momento, as dessincronias e os conflitos numa relação amorosa são praticamente inevitáveis, podendo ser potenciados por uma vasto leque de fatores intrínsecos e/ou extrínsecos ao próprio casal. Porém, é importante que os elementos do casal reconheçam quando não estão a ser capazes de, sozinhos, manterem um ambiente relacional saudável e funcional, afigurando-se a terapia de casal como um recurso importante nestas situações.
João Amorim é psicólogo do Psiquilibrios, mestre em Psicologia clínica e da saúde pela Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa.
Sorry, the comment form is closed at this time.