22 Abr O divórcio e a adaptação familiar
O divórcio pode ser descrito como um período de elevado stress psicossocial para toda a família. É um processo complexo, que acarreta múltiplas mudanças individuais e familiares, contudo, não predestina o fim daquela família (o subsistema conjugal se desfaz, mas não o filial). Há uma série de adaptações a fazer, desde as questões legais até um novo estilo de vida social e financeiro. Surgem novas tarefas e, para o ex-casal, será necessário fazer o luto da relação conjugal agora terminada. A realização ajustada destas tarefas irá contribuir para um funcionamento saudável e adequado da família.
Com o divórcio, surge também a necessidade de ajustamento familiar, ninguém deixa de ser filho ou primo, mas a interação e a comunicação podem mudar, havendo menos contacto com algumas pessoas, por exemplo. O casal divorciado deve criar novas dinâmicas relacionais e regras comportamentais de modo a promover o melhor ajustamento psicossocial dos filhos e até de si próprios.
Dentre as diversas tarefas familiares pós-divórcio, provavelmente a mais complexa caiba aos próprios pais: continuar a educar os filhos, embora em ambientes separados.
As mudanças nas relações entre pais e filhos decorrentes das transformações pelas quais a família tem passado na nossa sociedade conduz a um crescente questionamento sobre o papel dos pais e das mães na educação dos filhos numa situação pós divórcio.
Mesmo em situação de divórcio conflituoso, os pais devem dar prioridade aos filhos e tentar manter o plano educacional antes estabelecido. Não é saudável penalizar a criança apenas para importunar o seu ex-companheiro/a numa tentativa de retaliação. Neste sentido, os pais devem conversar e decidir as medidas a seguir no que concerne a educação e bem-estar dos seus filhos, tendo sempre em consideração o interesse da criança.
O meu filho irá adaptar-se ao divórcio?
Deve ser claro para a criança que o divórcio é conjugal, não parental, e isso requer que os próprios pais separem aquilo que pertence ao ex-casal da- quilo que envolve os filhos. Quanto melhor for esta separação entre o papel conjugal e o papel parental, melhor o ajustamento da criança.
Alguns fatores podem contribuir para a adaptação da criança ao divórcio, entre eles:
1) A cooperação entre progenitores, com reduzido conflito;
2) A formação de dois seios familiares estruturados;
3) A adaptação parental com novos papéis, estabili- dade social e financeira;
4) A segurança da vinculação da criança com ambos os pais;
5) A qualidade das relações pai/mãe com a criança;
Os estudos científicos têm comprovado que o ajustamento psicológico dos pais é um dos principais fatores responsáveis pelo bom funcionamento familiar após a separação ou divórcio. Assim, caso o adulto considere que não está a conseguir lidar com esta situação, deve procurar ajuda profissional. O pedido de ajuda não é motivo de vergonha ou constrangimento. O divórcio é uma situação causadora de grande tensão e é natural que, sobretudo numa fase inicial, o adulto sinta sintomas de depressão e ansiedade.
O que fazer para ajudar o meu filho a lidar com o divórcio?
- Dizer à criança que os pais se vão divorciar: Os pais devem ter uma conversa em conjunto com a crian- ça e explicar-lhe que decidiram separar-se. Deve ser criado um guião breve, pelos dois, de modo a que tudo o que é importante seja dito e não fiquem sentimentos de culpa ou aspectos importantes por dizer. Assim, discutam com antecedência o que vão dizer e quem vai dizer o quê. Durante a conversa, algumas regras devem ser cumpridas: ninguém irá culpar o outro pelo que está a acontecer; não vão discutir; não vão forçar a criança a escolher um dos pais; não vão dizer mal da família do outro; não vão usar a criança como fonte de suporte naquele momento (pedindo ajuda, por exemplo). Se a conversa conjunta não puder acontecer, devem fazer um acordo definindo quando vão ter conversas separadas, mas que se pautem pelas mesmas regras.
- Afirmar que a culpa não é da criança: É muito importante dizer diretamente à criança que a separação não tem nada que ver com ela e que se trata de algo que foi decidido por ambos os pais.
- Explicar as mudanças que poderão ocorrer na vida da criança: É importante que ambos os pais expliquem como será a vida da criança, pelo menos nos próximos tempos, para criar um sentimento de segurança.
- Assegurar a estabilidade da criança: A criança deve perceber que, apesar da separação, nenhum dos pais vai deixar de a amar, e que vai continuar a passar muito tempo com cada um deles e que ambos esta- rão sempre lá para a apoiar e assegurar tudo o que é necessário, incluindo a alimentação, roupas, material escolar, etc..
- Dedicar mais tempo ao seu filho nesta fase: A criança vai precisar de sentir-se segura de que não vai ser abandonada e, para isso, é preciso doses extra de tempo e atenção. Dê espaço para a criança fazer perguntas e responda às mesmas perguntas muitas vezes, se for necessário.
- Manter as rotinas: Dentro do possível, mantenha as rotinas da criança (escola, amigos, atividades).
- Não difamar o outro progenitor: Mesmo que considere que o seu ex companheiro/a agiu mal, não fale mal dele/a para a criança. Ele/ela continua a ser pai/ mãe do seu filho.
- Mantenha os professores informados: Fale com os professores do seu filho/a e ponha-os a par do que se está a passar. Peça-lhes para falarem consigo caso se aperceberem de algo de diferente no comportamento da criança.
Devo pedir ajuda a um psicólogo?
Ao nível da intervenção psicológica, há diferentes modalidades que podem adaptar-se às necessida- des de cada um. Em geral, com as crianças, os obje- tivos gerais são a prevenção de perturbações psicopatólogicas, a promoção da adaptação instrumental ao divórcio, a regulação emocional e a promoção/ manutenção do rendimento académico ajustado.
Algumas modalidades de intervenção para adultos e crianças são:
- Terapia individual: foca na reorganização psicológica pós-divórcio e, numa primeira fase, na intervenção em crise.
- A intervenção em grupo (criança ou adultos): o objetivo principal é de providenciar um espaço de su- porte emocional, que permita a partilha dos sentimentos e medos inerentes a esta mudança nas suas vidas.
- A terapia familiar: tem como finalidade contribuir para que a família desenvolva novos padrões de interação e de comunicação, mais funcionais e ajustados à sua nova realidade.
- A intervenção em grupo com pais: pretende dar respostas aos pais acerca do impacto psicológico do processo do divórcio, das suas necessidades e dos seus filhos, bem como dotá-los de técnicas de gestão comportamental mais adequadas.
Sorry, the comment form is closed at this time.