27 Abr O que é a Depressão e o seu tratamento
A depressão é uma doença do foro mental reconhecida desde os tempos mais remotos da humanidade. A investigação encontra registos sobre a depressão em todas as culturas do mundo há muitos séculos, embora com denominações variadas.
Não obstante esta longa carreira histórica e muitos avanços no seu tratamento, trata-se de um quadro de saúde mental que ainda apresenta algumas controvérsias, nomeadamente sobre os limites entre tristeza e apatia normais e patológicos, os factores que predispõem à depressão, os neurotransmissores envolvidos, aspectos culturais, etc.
Contudo e independentemente de quaisquer polémicas, a depressão, contrariamente àquilo que às vezes é socialmente difundido, não é uma reação de “pessoas fracas” que não conseguem resolver os seus problemas, mas sim uma doença grave e muitas vezes incapacitante.
A investigação em Psicologia tem evidenciado um aumento de casos de depressão na popula- ção em geral, bem como os efeitos limitativos que esta pode ter na vida das pessoas. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, em 2020 estima-se que a depressão e as doenças coronárias serão as duas maiores causas não só de mortalidade mas de incapacidade sobre a população em geral.
A depressão pode manifestar-se em diferentes graus de severidade e de intensidade e revela-se através de sinais e sintomas característicos, como a perda de energia, irritabilidade, humor deprimido a maior parte do dia, sentimentos de amargura ou fracasso, dificuldade de concentração, pessimismo, desesperança, alterações do sono e do apetite, lentidão das atividades físicas e mentais e perda de interesse por atividades habitualmente sentidas como agradáveis e interesse sexual diminuído.
Além dos sintomas afetivos e comportamentais, na depressão ocorre também uma alteração do conteúdo dos pensamentos, que estão centra- dos na sua incapacidade de enfrentar situações e numa percepção negativa de si (como inútil, por exemplo), dos outros e do mundo em geral, sendo comum surgir uma redução do rendimento académico, no trabalho e nos seus afazeres diários. Em virtude de todos estes sintomas, é comum a culpa ter um lugar marcado na depressão. Para que se possa considerar que uma pessoa está deprimida, esta deverá apresentar estes sin- tomas durante a maior parte do dia, pelo menos ao longo de duas semanas.
Geralmente a depressão surge em consequência de uma conjugação de vários fatores, tais como: acontecimentos de vida significativos (por exemplo, perda de emprego); estilos de pensamento (há uma tendência para pensar sobre o mundo, os outros e o futuro de forma negativa), padrões de comportamento (por exemplo, com menos atividades prazenteiras), fatores biológicos (predisposição genética). É importante distinguir a depressão da tristeza: a tristeza é um estado que, em geral, é passageiro e ao longo do dia a pessoa consegue manter algum humor positivo, ter esperança e ver o lado positivo das coisas. Por sua vez, a depressão revela-se em alterações significativas ao nível do humor, do pensamento, do comportamento e das sensações físicas que perduram com o passar do tem-po. A depressão impede a pessoa de ter uma vida funcional; ou seja, várias áreas da sua vida estão comprometidas, pois o seu funcionamento nelas está diminuído. Como consequência, a pessoa sofre sérios prejuízos sociais e nas relações interpessoais. Os acontecimentos sociais são um verdadeiro tormento para estas pessoas, uma vez que têm de fazer um esforço para aparentar que estão bem e conviver com pessoas que muitas vezes não percebem o seu desânimo. A depressão pode durar alguns meses ou mesmo anos e em cerca de 20% dos casos torna-se uma doença crónica sem remissão. Estes últimos casos devem-se, principalmente, à falta de tratamento adequado.
Importa diferenciar a depressão de uma resposta a uma perda por luto, ruína financeira ou divór- cio, por exemplo. As respostas podem ser semelhantes, mas são episódios diferentes, onde, por exemplo, no caso da depressão há total ausência de emoções positivas. Outro diagnóstico a diferenciar é o de abuso de substâncias, embora estas duas problemáticas possam ocorrer.
A existência de sintomas psicóticos concomitantes com os sintomas depressivos pode configurar uma situação de maior gravidade a qual o clínico deve estar atento.
De salientar que a depressão é uma das principais causas de suicídio, principalmente entre as pessoas que vivem sós. Qualquer pessoa que pense em morte ou em suicídio precisa de auxílio urgente. Quando os sintomas são intensos e persistem por mais de duas semanas, a pessoa deve procurar ajuda ou, no caso de estar incapaz, ser ajudada imediatamente.
Um tratamento sério é fundamental, e não é saudável que se espere uma melhoria por conta própria ou através de “pensamentos positivos”. Sem tratamento, os sintomas podem durar meses ou anos, podendo afectar gravemente toda a vida da pessoa e da sua família.
Dentre os vários tipos de tratamento da depressão, os mais comuns são a psicoterapia e a prescrição de medicamentos, sendo a conjugação de ambas mais eficaz, sobretudo nos casos de depressão moderada e grave. No que concer- ne à psicoterapia, a mais comum é aquela que recorre a alteração de crenças e pensamentos disfuncionais e que também incorpora técnicas para a modificação de comportamentos, como o uso de reforços. O objetivo é ajudar o cliente a aprender novas estratégias para atuar no ambiente promovendo as mudanças necessárias. O desafio de pensamentos automáticos negativos e a procura de pensamentos alternativos é também uma técnica eficaz nestes casos. A cooperação entre o terapeuta e o cliente é um ponto alto do tratamento, sendo as estratégias para o domínio do problema planeadas em conjunto.
Associados ao tratamento, cada pessoa deve recorrer a prática de atividades que lhe deem prazer, sejam elas, o exercício físico ou atividades de ocupação, que podem revelar-se como uma forma de aprendizagem e uma oportunidade para conhecer pessoas e outras realidades. Estas ocupações poderão proporcionar benefícios ao nível do bem-estar e da redução da irritabilidade.
Finalmente, não poderia deixar de salientar que, tal como em todos os problemas, a prevenção é sempre a melhor abordagem. Neste sentido, caso considere que está em situação de risco, procure a ajuda de um profissional de saúde de forma a impedir o agravamento dos sintomas.
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